sábado, 19 de setembro de 2009

Design Inclusivo de Equipamentos, Brinquedos e Vestuário

Artigo escrito para o P&D 2006.
Autores: Coordenadora Regina de Oliveira Heidrich
Professora Maria Bernandete Martins
Bolsista Marcelle Suzete Müller


Inclusive design of equipment, toys and clothes

Resumo

Este artigo relata os resultados obtidos pelo projeto de pesquisa interdiciplinar, intitulado Design Inclusivo de Equipamentos, Brinquedos e Vestuário do Centro Universitário Feevale. O projeto tem por objetivo incluir alunos com paralisia cerebral (P.C) no ensino regular. Para tanto busca desenvolver soluções tecnológicas essenciais para cada sujeito atendido. Pois, ser acessível é a condição que cumpre um ambiente, espaço ou objeto para ser utilizado por todas as pessoas.

Palavras Chave: Paralisia Cerebral, Desenvolvimento motor, Inclusão Social

Abstract

This article tells the results of research done by the interdiscipline’s group to Inclusive Design of Equipment, Toys and Clothes of the University Center Feevale. The group has for objective to include students with cerebral palsy (C.P.) at school. For this reason the search for development of essential technological solutions to each taken care’s person. Therefore, to be accessible is the condition that fills an environment, space or object that will be used by all the people.

Keywords: Celebral Palsy, Motor Development, Social Inclusion

1. Introdução

O presente artigo aborda o tema paralisia cerebral voltado para o caso específico de um sujeito que faz parte do projeto de pesquisa em Design Inclusivo, de equipamentos, brinquedos e vestuário, composto por um grupo interdisciplinar de pesquisa, no qual atuam profissionais da área do design, fisioterapia, medicina e psicopedagogia, que visam a inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais.

1.2 Paralisia Cerebral

Paralisia Cerebral (P. C), segundo Bobath (1989, p. 11) “é o resultado de uma lesão ou mau desenvolvimento do cérebro, de caráter não progressivo, e existindo desde a infância. A deficiência motora se expressa em padrões anormais de postura e movimentos, associados com um tônus postural anormal. A lesão que atinge o cérebro quando ainda é imaturo interfere com o desenvolvimento motor normal da criança”.
Já Andrade (2005), utiliza o termo Paralisias Cerebrais (P.C.) com significado do resultado de dano cerebral, que leva à inabilidade, dificuldade ou o descontrole de músculos e de certos movimentos do corpo. O termo Cerebral quer dizer que área atingida é o cérebro (sistema Nervoso Central - S.N.C.) e a palavra Paralisia refere-se ao resultado do dano ao S.N.C., com conseqüências afetando os músculos e sua coordenação motora, dos portadores desta condição especial de ser e estar no mundo.
De acordo com o autor, P.C. NÃO É DOENÇA, mas uma condição médica especial que freqüentemente ocorre em crianças antes, durante ou logo após o parto, e, quase sempre, resultada da falta de oxigenação do cérebro. As crianças afetadas pela P.C. têm uma perturbação do controle de suas posturas e dos movimentos do corpo, como conseqüência de uma lesão cerebral, não existindo dois casos semelhantes, pois algumas crianças têm perturbações sutis, quase imperceptíveis, aparentando serem "desajeitadas" ao caminhar, falar ou usar as mãos, enquanto que as submetidas a lesões cerebrais mais graves, a exemplo de casos de anóxia neonatal, podem apresentar incapacidade motora acentuada, impossibilidade de falar, andar e se tornam dependentes para as atividades cotidianas.

2. Metodologia

O método utilizado para a realização desta pesquisa, é observação das atividades exercidas pelos sujeitos que participam do Projeto de Pesquisa em Design Inclusivo, de Equipamentos, Brinquedos e Vestuário. Descrevemos com detalhes o comportamento, posturas exercidas durante as atividades junto ao computador, manuseando o mouse ou digitando. Através destas descrições obtemos as informações desejadas para analisar posteriormente os resultados obtidos com os atendimentos, bem como estipular novas estratégias para a continuação do processo de inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais no ensino regular, e na sociedade.

3. Desenvolvimento motor

Durante os três primeiros anos de vida o desenvolvimento motor é extremamente acelerado, pois é nessa fase que a criança aprende a rolar, engatinhar, andar, correr, alimentar-se com autonomia, vestir-se e despir-se, o que exige maturação das habilidades manuais e equilíbrio.

O mesmo ocorre com uma criança com P.C só que em um ritmo mais lento, sendo que algumas habilidades ela não chegará da alcanças dado ao grau do seu comprometimento e dificuldade. Assim, a criança P.C. pode ter seu desenvolvimento motor não somente retardado, mas desordenado e prejudicado, como resultado da lesão. A medida que, a criança P.C torna-se ativa, posturas e movimentos anormais aumentam e irão se modificar, para que ela se adapte as atividades funcionais. Muitos, senão todos os quadros musculares e articulares encontrados nas P.Cs, conforme Levitt (2001), originam-se na falta de influências coordenadas do cérebro.
Bobath (1989), destaca que na P.C a lesão interfere no desenvolvimento ordenado. Isto resultará, essencialmente, num retardo ou numa parada do desenvolvimento como:
 Um mecanismo reflexo postural insuficientemente desenvolvido, que se mostra, por exemplo, no mau controle da cabeça, na falta de rotação no eixo do corpo, na falta de equilíbrio e outras reações adaptativas.
 Uma falta de inibição que se mostra numa retenção indevidamente prolongada dos primitivos padrões de massa da primeira infância.
4. Estudo de caso

C. nasceu de cesariana, com 37 semanas e 4 dias, sem complicações durante ou após o parto. No 1º mês de vida, perceberam que a menina ignorava sua mão esquerda quando mamava, e que as pernas ficavam sempre muito rígidas. Logo sendo diagnosticado, que ela era portadora de paralisia cerebral com diparesia espástica. Segundo Andrade (2005), a criança espástica possui aumento e tonicidade dos músculos, podendo haver um lado do corpo afetado (hemiparesia), os membros inferiores (diplegia), ou os 4 membros (quadriplegia).

Padrões motores e posturais

C. utiliza órteses em seus membros inferiores, que auxiliam na sua estabilização e permitem que consiga uma marcha em tesoura, porém, com falta de equilíbrio estático ao sentar e equilíbrio dinâmico nas trocas de postura. A paciente não se locomove sozinha, necessita de auxílio ou de uma cadeira de rodas. Ao realizar os passos para frente, suas pernas cruzam entre si, e quando realiza marcha com andador, necessita de assistência para mantê-lo fixo ao chão. Neste momento apresenta desalinhamento corporal, maior no hemicorpo esquerdo, sendo impossível correr, pular e saltitar. A menina apresenta uma saúde geral estável, apenas desenvolvendo quadro asmático esporadicamente. Não apresenta convulsões e não faz uso de medicação contínua. Ela é apenas medicada quando apresenta crise asmática. Nunca precisou de tratamento cirúrgico, nem sofreu qualquer tipo de fratura.

• Supino

Nesta postura, C. apresenta padrão extensor de membros inferiores. A cabeça encontra-se na linha média, e a menina consegue virá-la tanto para esquerda, quando para a direita, bem como levantá-la da superfície. Seus braços também estão na linha média, e com eles ela consegue alcançar objetos a sua frente. As pernas apresentam movimentos independentes, porém, o tônus extensor é visível, e em certos momentos dificulta seus movimentos. A paciente não consegue entrar e sair da posição supino, exclusivamente, através do rolar, e não senta sozinha e nem engatinha.

• Prono

O padrão predominante em prono, é a hiperextensão de membros inferiores. Encontra-se com bom alinhamento corporal e sem assimetrias. Nesta postura, C. realiza o suporte em antebraços, porém não consegue manter suporte com os antebraços estendidos. Suas pernas apresentam movimentos independentes, porém, novamente o tônus extensor dificulta muitos movimentos voluntários, tornando-os mais difíceis de serem realizados. Nesta postura, a menina consegue rolar independentemente para a direita e esquerda, porém não consegue engatinhar, e nem entrar na posição de gatas.

• Sentada

Para sentar, C. ajuda-se agarrando com as mãos. Apresenta controle da cabeça, mas suas pernas permanecem em extensão durante o processo. Para permanecer nesta posição, é necessário um bom suporte de tronco, neste caso, ela libera ambos os braços para realizar atividades de seu interesse. Estando com as pernas estendidas ela não realiza movimentos de membros inferiores, e também não apresenta reações de equilíbrio e proteção (nem para frente, lados ou atrás). Quando está sentada em cadeiras ou bancos, ela consegue pegar e soltar objetos, porém não apresenta movimentos de pernas, nem mesmo reações de equilíbrio. Sentada em cadeiras com encosto, ela mantém uma boa postura por alguns instantes, porém em certos momentos escorrega para frente.

• Em pé

C. não consegue entrar e sair da posição em pé estando sentada no chão ou em cadeira, nem mesmo ajoelhada ou semi-ajoelhada, somente com auxílio. Quando seus pés estão paralelos, apresenta um padrão tesoura, com adução e rotação interna de membros inferiores. Este padrão aumenta na posição de passo, neste momento a menina apresenta um desalinhamento corporal, maior no hemicorpo esquerdo. Não apresenta reações de equilíbrio, necessitando sempre de apoio.

5. A paciente na clínica de fisioterapia

C. já realizou tratamento na hidroterapia e na equoterapia do Centro Universitário Feevale, e desde os 8 meses freqüenta a clínica de fisioterapia semanalmente. Apresenta independência quando na posição prona ou supino em relação aos membros superiores, além de possuir grandes habilidades cognitivas, auditivas, de linguagem e visão.

Os principais objetivos do tratamento de fisioterapia são:

 Melhorar funcionalidade da mão esquerda;
 Modular o tônus muscular em membros inferiores;
 Aumento do controle postural;
 Melhorar a independência ao vestir-se e ao realizar a higiene;
 Permanecer em ortostase sem auxílio;
 Desenvolver a marcha com auxílio do andador;

Observamos que o paciente desafia no seu brincar as limitações do seu corpo, se esforçando para realizar as tarefas quando recebe incentivo e apoio de sua família e amigos. O objetivo é melhorar seu equilíbrio estático e dinâmico, fortalecer sua musculatura, desenvolver a psicomotricidade , adaptar suas mãos para executar tarefas no computador, e aprimorar sua marcha, que só realiza quando sustentado, pois apresenta o andar cruzado com padrão espástico. Melhorando assim, suas atividades na vida diária, tornando-o mais independente e mais confiante em sua capacidade motora.

5.1 Atendimentos do projeto de pesquisa

Nas sessões do paciente C., incentivamos o uso do computador, executando tarefas com as duas mãos (uma no teclado e outra no mouse). Após estas sessões, observamos que o aprendizado seria muito mais rápido, se houvesse uma adaptação do teclado e do próprio software, para crianças com lesões cerebrais. A criação desse software, e de dispositivos de adaptação, decorrem a partir das necessidades específicas de cada criança, que não consegue utilizar o mouse ou o teclado, sem que estes sejam modificados. Um simples clique no botão direito do mouse, pode ser uma tarefa impossível para alunos com alterações anatômicas, em seus membros superiores, ou com limitações motoras, que impeçam a execução da tarefa.

6. Inclusão escolar e social

C. está com 4 anos e incluída no ensino regular desde 2004, onde freqüentava a turma C3, três vezes por semana. No letivo de 2005, passou a freqüentar todas as manhãs, e foram feitas algumas adaptações na escola, para que pudesse interagir com as outras crianças nas atividades. Como rampas, cadeiras adaptadas com braços e assentos com material para não escorregar, balanço com cintos para prender (material improvisado) e a tampa do vaso sanitário.
Pode-se notar, após o convívio entre crianças com e sem lesão, mudanças no comportamento, e melhora nas relações entre as próprias crianças, pais e educadores. “No sistema educacional da inclusão cabe à escola se adaptar às necessidades dos alunos e não aos alunos se adaptarem ao modelo da escola”.(WERNECK, 1997, p. 53).
A autora ressalta vários conceitos de inclusão escolar e social, com objetivos amplos, estudados por educadores, profissionais e autoridades.
 O objetivo da inclusão escolar é preparar os estudantes para se tornarem adultos produtivos como membros de suas comunidades;
 Como prática inclusão é um processo educacional através do qual todos os estudantes, incluindo os com deficiência, são educados juntos, com o apoio necessário, na idade adequada, em instituições de ensino regular, na vizinhança de suas casas;
 Parentes, educadores, irmãos, diretores e professores são parceiros no processo de inclusão e devem trabalhar juntos para que ele seja bem – sucedido;
 Incluir uma criança com necessidades especiais não é deixá-la em classes especiais e só levá-la para a classe regular na hora dos assuntos não acadêmicos;
 Incluir não significa deixar o estudante com necessidades especiais numa sala de aula sem suporte adequado;
 O sucesso da inclusão depende de avaliação constante do processo, da flexibilidade da equipe multidisciplinar para alterar programas e do apoio da família, da escola e da comunidade;
 Quando o processo de inclusão é bem conduzido, as pesquisas mostram que os benefícios são amplos; amizades se desenvolvem, estudantes sem deficiência aprendem a apreciar as diferenças e aqueles com deficiência se tornam motivados. A comunidade ganha. (WERNECK, 2001, p.58).
Crianças com P.C têm encontrado muita dificuldade, e resistência no processo de inclusão, nas escolas e na sociedade. Somente algumas instituições de ensino, estão trabalhando com a inclusão social destes jovens.“Quando as escolas são excludentes, o preconceito fica inserido na consciência de muitos alunos quando se tornam adultos, o que resulta em maior conflito social uma competição desumana.” ( STAINBACK, 1999, p.27)
Promover a amizade entre as crianças com paralisia cerebral ou outro comprometimento, com outras que não possuem deficiência, através do convívio diário numa escola regular, é um grande progresso, que contribui na sua formação acadêmica e social. Tal progresso, não ocorre em ambientes segregados, é necessário à inclusão social destes jovens.

Considerações Finais

Após este breve estudo sobre o caso da paciente C., concluímos que depois da casa, no convívio familiar, é na escola que a criança passa maior parte de seu tempo, este local torna-se sua 2ª casa. Por isso, ele deve ter acessível, e apropriado a todas crianças com ou sem necessidades especiais, onde o diretor deve reconhecer sua responsabilidade de definir os objetivos da escola e de garantir a tomada de decisões, o enfrentamento dos desafios e o apoio às interações e aos processos que se compatibilizam com a filosofia da escola.
Assim, alcançaremos nosso objetivo que é a inclusão escolar e social. Visando a adaptação de equipamentos e brinquedos para as crianças portadoras de deficiências, permitindo que todos se sintam motivados, desenvolvendo o seu potencial, além de lhes proporcionar oportunidades de participar do ensino regular com outras crianças, formando cidadãos mais independentes e felizes. A partir, deste processo de inclusão, ensinaremos as pessoas desde cedo, a respeitar as diferenças individuais de cada ser humano.

Referências

ANDRADE, J. Site Defnet (capturado em dezembro de 2005). Disponível na Internet em www.defnet.org.br.
BOBATH, Bertha e BOBATH, Karel. Desenvolvimento motor nos diferentes tipos de paralisia cerebral. Editora Manole, 1989.
BOBATH, Bertha e BOBATH, Karel. A deficiência motora em pacientes com paralisia cerebral. Editora Manole, 1989.
CORIAT, Lydia centro. Escritos da Criança. Revista do Centro Lydia Coriat. Porto Alegre, nº 4, 1996. 96p.
DIAMENT, Araon e CYPEL, Saul. Neurologia Infantil. Editora Atheneu, 1996.
Heidrich, Regina de Oliveira. Análise de processo de inclusão escolar de alunos com paralisia cerebral utilizando as tecnologias de informação e comunicação. Porto Alegre: 2004. 220 p. [Tese Doutorado em Informática na Educação].Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias da Educação, UFRGS, 2004.
LEVITT, Sophie. O tratamento da paralisia cerebral e do retardo motor. 3ª edição, 2001. Editora Manole.
STAINBACK, Susan; STAINBACK, William. Inclusão, um guia para educadores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. 451 p.
WERNECK, Claudia. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva / Claudia Werneck. Rio de Janeiro: WVA, 1997. 314p.

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